Empresários reforçam a aprovação – Correio Braziliense

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Alessandra Azevedo
Rodolfo Costa
Correio Braziliense

A estratégia para garantir a votação da reforma da Previdência, na Câmara dos Deputados, é fechar a questão com os partidos. Pelo lado dos prefeitos, o foco é no convencimento dos parlamentares locais. Já os empresários estão unidos nas duas pontas e mobilizados tanto nos estados quanto no contato direto com o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Ontem, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, por exemplo, se encontrou com o presidente Michel Temer para discutir o assunto. "Pena que não deu para aprovar a reforma já na hora, porque estamos muito dispostos", disse.

O dirigente criticou o fato de parlamentares se negarem a votar a matéria pensando na repercussão do tema nas eleições de 2018. "É preciso mudar essa cultura. Tem que ter coragem de querer mudar, para que a gente tenha resultados melhores para os nossos filhos e netos", afirmou. Para mudar essa ideia, a estratégia da Cbic consiste, basicamente, em mobilizar os integrantes das 86 entidades associadas à câmara — que têm representações em todos os estados do país — para que conversem com os deputados indecisos e os convençam a votar favoravelmente à reforma.

"O nosso trabalho é conversar com o pessoal lá da base para que eles falem com os deputados que são contra ou não se decidiram ainda. A ideia é chegar aos parlamentares com quem nós temos algum tipo de relacionamento ou mesmo o mínimo de abertura para argumentar sobre os benefícios da reforma", explicou Martins, ressaltando que as mudanças devem gerar mais empregos e acabar com privilégios. "E disso nosso pessoal entende bem. Somos um setor que vai andar 6% para trás no Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Sabemos direitinho os efeitos de não se preocupar com os ajustes necessários à economia", acrescentou.

"Força-tarefa"

A Cbic faz parte de uma "força-tarefa" a favor da reforma, que tem pressionado os deputados e marcado encontros nos gabinetes para garantir votos positivos quando a matéria for pautada. O grupo conta com cerca de 30 entidades, entre especialistas na área, representantes do setor produtivo e da sociedade civil, e é coordenado pelo Centro de Liderança Pública (CLP). Segundo a CEO do CLP, Luana Tavares, "a união de esforços é essencial para que o Poder Legislativo compreenda os impactos positivos da aprovação das mudanças na Previdência". Ela ressaltou, como benefícios, a redução da desigualdade e a preservação dos direitos dos cidadãos.

Além da Cbic, fazem parte do grupo a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), o Instituto Millenium, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), a Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre outras entidades. Ontem, a CNI lançou nota na qual destacou a importância da aprovação da reforma para manter os juros em um patamar mais baixo — também nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central baixou a taxa básica de juros (Selic) para 7% ao ano. Segundo a entidade, a não aprovação da reforma da Previdência pode provocar a reversão dessa queda.

Manifestações desde cedo

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Servidores públicos fizeram ontem duas manifestações simultâneas contra a proposta (PEC 278/16) de reforma da Previdência. Enquanto cerca de 50 aposentados, pensionistas e servidores estaduais, federais, municipais e distritais ativos e inativos, desde as primeiras horas da manhã, na entrada da Quadra 302 Norte, em Brasília — onde moram alguns parlamentares quando estão na Capital –, acordavam os políticos ao som de buzinas e vuvuzelas, integrantes do topo da pirâmide, do Fórum Nacional das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), protestavam no Salão Verde da Câmara dos Deputados. "Conversamos com muitos deputados depois do ato. O governo não tem os 308 votos e está blefando para o mercado", afirmou Rudinei Marques, presidente do Fonacate. (Vera Batista)

Quatro perguntas para Arthur Maia, relator da reforma previdenciária na Câmara dos Deputados


De onde vem a maior resistência à reforma previdenciária? Dos trabalhadores privados ou dos servidores públicos?

Não há dúvida de que essa reforma acaba com os privilégios do funcionalismo público. Eu diria que toda a resistência reside na área do funcionalismo público.

Como enfrentar isso?

Enfrentando. As pessoas têm que compreender que não é justo que eu, que sou deputado, possa ter uma aposentadoria de R$ 33 mil. Isso vale também para o juiz, promotor, procurador, para os altos funcionários públicos. E vocês, que são brasileiros tanto quanto eu, mas que não são funcionários públicos, só possam se aposentar ganhando R$ 5.531.

O governo Temer se atrapalhou um pouco na comunicação e no enfrentamento em relação ao discurso?

Não. Eu acho que é um assunto muito difícil de se comunicar. Eu precisaria de uma hora para explicar item por item do meu relatório. Mas, depois de termos aprovado um relatório na comissão, veio a delação da JBS, e isso paralisou tudo. Passamos cinco meses sem tratar da reforma. Agora, no retorno, a realidade política é outra. E o fato é que, neste momento, o governo resolveu enxugar a proposta inicial, e depois enxugar também o próprio relatório aprovado na comissão. Tiramos tudo que diz respeito ao trabalhador rural. Tiramos tudo o que diz respeito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), que é um benefício pago a pessoas carentes que têm algum tipo de deficiência física ou mental. Para quem recebe BPC e é trabalhador rural continua valendo a regra de hoje. Tiramos o tempo mínimo de contribuição (do trabalhador rural) para poder se aposentar. Estava 25 anos, agora está em 15 anos. Então, com essas mudanças, o que sobra na reforma é que, a partir dela, ninguém que entrar no serviço público federal, estadual ou municipal poderá se aposentar com mais do que as pessoas da iniciativa privada se aposentam hoje.

A grande questão é que o Congresso não consegue votar. O problema, hoje, está entre os deputados?

Não tenho dúvida. Infelizmente, existem deputados que percebem a questão legislativa como uma interface da eleição. Eu acho que é preciso que as pessoas no Brasil compreendam que o bom político não é aquele que só fala coisa boa e dá o tapinha nas costas. Não adianta eu dizer que não precisa mudar nada na Previdência e daqui a quatro ou cinco anos, você que é aposentado, perder a sua aposentadoria. Se não fizermos nada, o Brasil pode seguir o exemplo do que acontece com o estado do Rio de Janeiro. O Rio não consegue pagar os seus aposentados. Isso acontecerá em breve com o Brasil se não fizermos uma reforma.

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