Manuela Rolim
Jornal de Brasília
O setor imobiliário do DF está em declínio. Os números legitimam a afirmação. A expectativa é de que o ano termine com somente 14 lançamentos de edifícios, resultado inferior ao de 2015, quando a crise no ramo parecia não ter como se agravar. No ano passado, foram 17 novos empreendimentos no total. O cenário reflete o desequilíbrio ao longo dos anos. Em 2010, por exemplo, o setor chegou a registrar quase 60 lançamentos, lembra o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-DF).
Até dezembro, a previsão é de que três ou quatro empreendimentos ainda sejam entregues, informa o vice-presidente de indústria imobiliária do Sinduscon, João Accioly. Neste semestre, só dois saíram do papel e, até o meio do ano, não passaram de oito. “Vamos fechar dentro da margem esperada para 2016, que era baixa mesmo. Não há como negar, o ramo está em crise”, confirma Accioly.
Entre os motivos que contribuíram para o cenário atual, o vice-presidente destaca o excesso de burocracia no licenciamento para inciar e finalizar as obras e a instabilidade política e econômica do País. “Todos ficaram com receio de lançar imóveis de grande porte. Não por acaso, ao longo dos anos, investimentos menores se tornaram tendência. O setor visa minimizar riscos”, completa.
Ainda assim, as perspectivas para o futuro são otimistas. “É necessário apresentar ao mercado alternativas de compra, além de começar a pensar em ofertas que possam facilitar o negócio do consumidor. Apostamos em uma melhora gradativa e em números melhores para o próximo ano, mas nada que se compare ao resultado de 2010”, conclui.
O vice-presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi), Eduardo Aroeira, compartilha a mesma opinião. Segundo ele, apesar da quantidade de lançamentos ter sido menor em relação a 2015, o faturamento foi maior este ano. “No ano passado, foram R$ 1,2 bilhão. Desta vez, fechamos com cerca de R$ 1,5 bilhão. Isso aconteceu porque, em 2015, entregamos muitos imóveis em Samambaia, de pequeno porte”, explica.
Aroeira destaca que os três empreendimentos previstos até dezembro estão no Noroeste. Um deles está localizado na Quadra 307. “São imóveis de alto padrão. O quarto, se for lançado, será em Samambaia. Isso mostra que os compradores de maior poder aquisitivo começam a querer investir de novo. Antes, estavam com medo”, acrescenta.
Para o vice-presidente da associação, a melhora, porém, virá a passos lentos. “O otimismo existe, tanto que ainda torcemos para que o número passe de 14 este ano, mas temos consciência da realidade e das dificuldades que o setor precisa enfrentar”, finaliza.
É ruim para vender, bom para comprar
Os brasilienses que sonham em trocar de endereço detalham o cenário atual na prática. Morador de Águas Claras há cinco anos, o bancário Sanderson Carneiro Lima, 40 anos, destaca a oferta de imóveis usados e a escassez de empreendimentos novos. “A oferta de usados está enorme, o que é positivo pela queda do preço. Por outro lado, vender o meu apartamento para comprar outro está cada vez mais difícil. Hoje, minha maior dificuldade é escolher uma opção entre tantas disponíveis. Vemos anúncios para todo o canto, mas de lançamentos não. Se aparecer um imóvel novo em boas condições de compra, também posso me interessar”, afirma.
Casado, o bancário pretende se mudar com a esposa para um apartamento maior na mesma cidade, no Sudoeste ou na Asa Sul. A pesquisa por um novo endereço já dura um mês.
“Estamos procurando nas três regiões e a situação é a mesma: muitos imóveis usados. Isso pode ser bom, já que não queremos ter trabalho com reforma, mas limita as opções. Nosso objetivo é ir para o Plano Piloto por causa dos nossos empregos”, completa.
Desburocratização
A sanção da Lei do Polo Gerador de Viagens (PGV), que acaba com a obrigatoriedade da apresentação do Relatório de Impacto de Trânsito (RIT) para grande parte dos empreendimentos, seria um facilitador para a construção civil no DF, mas nem isso foi capaz de resgatar o setor da crise. A medida fornece mais celeridade ao processo de liberação dos empreendimentos e, com isso, viabiliza a desburocratização do setor – uma construção classificada como PGV precisará pagar um valor entre 0,5% e 1,5% do custo da obra.