Nelson Acar, sócio da Dex Advisors e responsável pelo programa de implantação de BIM nas construtoras. Desenvolve, na Escola Politécnica da USP, pesquisas relativas à Industrialização e Inovação na Construção Civil e sua relação com a Internet das Coisas (IoT)
A indústria da construção civil está passando por um surto inovativo, tanto para o mercado de edificações quanto para o setor de infraestrutura. Na esfera privada e na área pública, o uso do BIM (Building Information Modeling) tira a construção civil do século XX em direção ao século XXI.
Isso vale do projeto inicial do empreendimento construído até o fim do seu ciclo de vida com sua demolição ou “retrofit” planejado.
Chegou a hora de fomentar novos processos de gestão e planejamento na área e tirar o Brasil de um atraso tecnológico causado por 13 anos de cegueira ideológica e um apetite desenfreado por corrupção das maiores empreiteiras do País, já que o cenário brasileiro vislumbra uma nova onda de investimentos, com o anúncio de que o Banco do Brasil deve liberar até R$ 50 bi para 18 projetos de infraestrutura. O setor poderá ser o principal indutor de uma retomada mais sólida do crescimento econômico.
O BIM – Building Information Modeling (Modelagem da Informação da Construção) é um conjunto de processos e softwares, que atendem a diversas disciplinas que conversam entre si desde a fase inicial de planejamento da obra passando por sua construção até a suas fases de operação e manutenção.
É uma ferramenta de gestão e, em empreendimentos de maior monta, o BIM permite até o projeto de sua demolição desde a sua concepção.
Nos países do G20, a tecnologia será obrigatória em obras públicas ou financiadas com recursos públicos, o que já ocorre na Inglaterra.
Nos Estados Unidos, o sistema é obrigatório em prédios públicos federais e em obras financiadas com dinheiro público, assim como em países como Noruega, Finlândia, Dinamarca, Suécia, Japão, Escócia, Chile, Japão e Austrália, que se preparam para implantar legislações semelhantes até o fim de 2018, e é aplicada de uma forma exemplar em Singapura, no sudeste asiático, que se tornou o padrão mundial de excelência no seu uso como política pública.
Já existem também iniciativas importantes no Brasil, mas infelizmente somente um número muito reduzido de construtoras e escritórios de arquitetura o utilizam em todo o seu potencial.
Apesar de haver soluções em BIM há mais de uma década, somente agora algumas prefeituras mais arejadas e inovadoras tomam iniciativas para implantar e exigir esta importante transformação digital em suas administrações.
Seu uso gera impactos com reduções drásticas nos custos e tempos de construção, nas despesas de operação e manutenção, no aumento da sustentabilidade ambiental, na redução de detritos, na eficiência no consumo e geração energética, na redução do nível de retrabalhos e patologias construtivas, redução de inadimplência dos mutuários no caso de habitações de cunho social e, principalmente, na diminuição drástica das oportunidades de corrupção.
O modelo interfere em todas as disciplinas, por toda a vida da construção e é coordenado e consistente. Todos os profissionais, desde o arquiteto, engenheiro, paisagista, projetista, até aquele que fará a manutenção, inclusive o que for demolir depois, se isso ocorrer, estão dentro do sistema, operando simultaneamente. Por exemplo, se houve a necessidade de mudar uma porta de lugar, a parede também muda.
O BIM para a construção civil equivale ao que a revolução da Toyota foi para a indústria automobilística. A construção civil no mundo está começando a entrar no século XXI. No Brasil estamos lutando ainda para sair do XIX.
*Artigo publicado no Diário do Comércio do dia 17 de outubro de 2017