Paulette Perhach
Folha de S. Paulo
Casas que você pode imprimir, transportar na caçamba de um caminhão ou até por via aérea. Isso soa como algo de ficção científica, mas, motivada pelas pressões das mudanças climáticas e do crescimento demográfico e moldada pela promessa de tecnologias como a impressão 3D, uma revolução está transformando o futuro da construção civil.
Precisamos repensar a forma como moramos, especialmente nas cidades litorâneas, porque nosso mundo pode ser modificado pela elevação dos mares de maneiras que ainda não conseguimos prever por inteiro, disse o professor universitário Hans-Peter Plag, diretor do Instituto de Pesquisas em Mitigação e Adaptação da Old Dominion University, em Norfolk, Virgínia.
“Sempre construímos com base no princípio de que o nível do mar não mudaria”, ele explicou. “Mas isso não existe mais.”
Um fator que complica o problema do encolhimento da superfície terrestre é a previsão de que a população mundial chegará a 10 bilhões de pessoas até 2050.
Atualmente, uma em cada oito pessoas no mundo vive em favelas urbanas, e até o ano 2025 “é provável que 1,6 bilhões de pessoas não tenham acesso a moradia adequada e de preço acessível”, segundo um relatório de 2016 da ONU-Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos). O documento pede que a moradia seja priorizada na agenda urbana no futuro.
O professor de engenharia Behrokh Khoshnevis, da Universidade do Sul da Califórnia, é um entre muitos inovadores que procuram meios de mitigar a crise habitacional. “Precisamos encontrar uma solução para o problema da moradia, que está na base da pirâmide de necessidades humanas”, disse ele.
Khoshnevis espera que seu método de impressão 3D, que ele batizou de Contour Crafting (Construção por Contornos, em português), gere uma maneira de erguer unidades habitacionais a uma fração do custo atual. O método dá forma a uma mistura de concreto por meio de um guindaste robótico guiado por computador. Khoshnevis disse que, com sua tecnologia, será possível construir uma casa em um dia e reduzir em 30% o custo da construção.
Jeff Wilson é o executivo-chefe da empresa Kasita, de Austin, Texas. Ele ficou conhecido como Professor Dumpster (professor Caçamba de Lixo) depois de viver em uma caçamba de três por quatro metros por um ano, para testar os limites do minimalismo.
Pensando em uma maneira de ajudar músicos, artistas, jovens e profissionais do setor de serviços impossibilitados de adquirir casa em Austin devido à valorização dos imóveis da região, Wilson criou uma casa inteligente de 30 metros quadrados que pode ficar isolada ou ser inserida em “estantes” que podem elevar-se a até dez andares de altura. Nas unidades de estantes, as casas são ligadas à canalização e fiação de água, eletricidade e esgotos. A empresa espera produzir as primeiras 40 unidades habitacionais este ano.
“No longo prazo, vamos ter que flexibilizar o modo como continuamos a viver em nossas cidades”, disse Wilson.