Marcus Eduardo Pereira
Jornal de Brasília
O engenheiro civil David Maia, 33 anos, trabalha com construção civil desde 2014, setor que sempre teve destaque no Distrito Federal. Com a pandemia da covid-19, o cenário futuro parecia ser desolador, porém, não foi o caso. Em meio à crise econômica enfrentada pelo País, o setor tem tido destaque desde o ano passado, oferecendo muita demanda e postos de emprego.
“Hoje em dia, trabalho na área de projetos, mas vários colegas já me ligaram oferecendo serviço como engenheiro de obras, pois eles não conseguem atender a tanta demanda”, comentou David. O profissional tem tido sucesso em sua carreira durante a pandemia. Em 2020, David Maia intensificou a procura por novos horizontes dentro da área e obteve sucesso após poucas entrevistas de emprego. “Consegui uma proposta de salário melhor depois de algumas entrevistas e não fiquei sem trabalhar na pandemia”, disse.
Em dezembro de 2020, a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codesplan) divulgou um estudo em que apontava que em junho, durante o período de maior desemprego no DF, a construção civil mantinha 47 mil ocupados no período, como engenheiros, pedreiros, mestres de obra, entre outros. No fim do ano, já eram 75 mil empregados, apresentando números fortes para a recuperação da economia da capital federal.
“A construção civil hoje é sem dúvida uma das maiores indústrias do DF. O mais importante é a sua capacidade de absorção de mão de obra. Ela tem um poder de geração de emprego imediato na economia, quando em bom funcionamento”, avaliou o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Roberto Botelho.
Dentre as diversas explicações para que o mercado da construção civil e imobiliário no Distrito Federal, estejam aquecidos durante a pandemia, o principal fator está redução das taxas de juros. Com a taxa básica de juros (Selic) em baixas históricas desde o início da pandemia, as taxas do financiamento imobiliário também caíram, e por consequente, todo o mercado se agitou.
“O mercado imobiliário já vem numa recuperação desde o ano passado. Na nossa avaliação, a principal razão para que isso esteja acontecendo são as taxas de juros, principalmente de financiamento imobiliário, que se encontram no seu mínimo histórico”, explicou o presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (ADEMI-DF), Eduardo Aroeira. “Para se ter uma ideia, as taxas giravam em torno de 12% no passado. hoje em dia, você encontra taxas mais baixas, de até 6,25%, quase a metade. Na prática, as taxas de financiamento de apartamentos e de casas estão cabendo no bolso do comprador, que estimula bastante a compra do imóvel.”
Uma característica importante dos momentos de crise econômica é a movimentação do mercado imobiliário, que costuma se sair de uma maneira menos traumática durante esses períodos. “No ponto de vista do mercado imobiliário, temos como principal motivação a taxa de juros, a menor da nossa história. Ela é o principal vetor de direcionamento de compra. Quanto menor a taxa, mais pessoas podem comprar o mesmo imóvel”, comentou Roberto Botelho.
Desde o ano passado, as novas linhas de financiamento imobiliário e facilidades adicionais, como carência de até seis meses também foram imprescindíveis para essa movimentação. As linhas de crédito surgiram em um momento em que é possível enxergar uma mudança de visão do consumidor. “A pandemia também trouxe uma situação que ressignificou o imóvel. Neste período, as pessoas precisaram ficar mais em casa, e a partir desse momento, passaram a perceber que o imóvel de qualidade, é fundamental para segurança e qualidade de vida. A partir disso, percebemos um aumento na compra de novos imóveis, com varanda, coberturas, casas”, pontou Eduardo Aroeira.
Otimismo pós-pandemia
Um fator importante que reflete o momento do setor, é a marca histórica de 2.220 alvarás de construção emitidos pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) no fim do ano passado. Em janeiro de 2021, a Central de Aprovação de Projetos (CAP) expediu 207 alvarás, um aumento de 13% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram emitidos 183 documentos desse tipo.
“As empresas começaram a projetar novos empreendimentos, visando novos lançamentos de produtos. No nosso entendimento, o aumento do número de alvarás acontece pelo fato do mercado estar aquecido. Com isso, novos projetos estão sendo produzidos. Essa é a dinâmica do mercado”, afirmou Aroeira. O setor abriu o segundo trimestre de 2021 mantendo resultados positivos e a sinalização de recuperação sustentada.
Em abril, foi registrado Índice de Velocidade de Vendas (IVV) de 8,5% no segmento residencial, superior ao realizado ao mesmo período de 2020, quando o indicador alcançou 5,2%.
O IVV acompanha o desempenho do mercado. Constitui em uma pesquisa de coleta de dados mensal, junto às construtoras e incorporadoras mais representativas do setor imobiliário. Quanto mais alto o índice, menor o tempo necessário para vender as unidades dos empreendimentos. Uma iniciativa conjunta da ADEMI-DF e o Sinduscon-DF, com apoio do SEBRAE-DF.
A pesquisa aferiu o lançamento de dois novos empreendimentos, com a oferta de 130 novas unidades residenciais. Em abril, foram comercializados 343 imóveis no DF, com destaque para os segmentos de médio e alto padrões (acima de R$ 250 mil): as regiões com o maior volume de comercialização de imóveis em abril foram Águas Claras (88), Noroeste (85) e Santa Maria (45).
Os números positivos são acompanhados com muito otimismo por todos da construção civil. As perspectivas são de prosperidade para o segundo semestre e, também, para uma pós-pandemia. “As últimas projeções para o PIB do Brasil são muito boas, já há quem fale em algo próximo a 6%, com isso teremos um ano muito bom e com boas perspectivas para 2022”, comentou Roberto Botelho.
Assim como o vice-presidente da Sinduscon-DF, o presidente da ADEMI-DF também tem boas perspectivas de futuro no cenário do setor. De acordo com uma pesquisa da associação, sobre percepções do empresário associado, 90% das empresas do setor tinham empreendimentos em construção no início de ano, e 70% dos entrevistados apostam no aumento da demanda por imóveis nos próximos seis meses e 30% responderam que ficaria igual. “Nenhum associado respondeu que o cenário estaria pior. Então, nossas perspectivas para 2021 são muito boas, acreditamos numa melhoria no segundo semestre e a expectativa pós-pandemia também se enquadra nesse sentido”, finalizou Eduardo.
Expectativa pelas mudanças na Luos
Com a proposta aprovada dos ajustes técnicos que corrige imprecisões da Lei nº 948/2019, que trata da Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), as associações e sindicatos aguardam pela aprovação do projeto na Câmara Legislativa do Distrito Federal.
De acordo com a relatoria da matéria, aprovada em novembro de 2019, requer a revisão da Luos, ao corrigir imprecisões e promover adequações em relação às atividades permitidas para as categorias de uso, resolve problemas identificados desde a aprovação da lei, contribui com a dinâmica urbana, otimiza a utilização da infraestrutura urbana implantada e aumenta a oferta de empregos. “A aprovação dessa importante lei é fundamental para a dinamização do nosso setor. Pedimos, com toda a humildade, pressa na sua aprovação”, pede Roberto Botelho.
Em coro ao vice da Sinduscon-DF, o presidente da ADEMI-DF também reafirma a importância da lei, que também será de muita importância para manter o mercado em alta. “O nosso setor aguarda com ansiedade o projeto de lei que se encontra na CLDF. As correções vão permitir que vários projetos que estão na prateleira, aguardando essa solução, possam ser aprovados. Com isso, novos empreendimentos podem ser lançados e iniciar um ciclo virtuoso de geração de emprego e renda para nossa cidade”, avaliou Eduardo.
As principais alterações sugeridas na Luos são a compatibilização dos mapas com os novos limites das regiões administrativas definidas na Lei Complementar nº 958, de 20 de dezembro de 2019; incorporação de novos projetos urbanísticos e de regularização fundiária registrados em cartório; compatibilização com as normas vigentes, como o Código de Obras e a Lei de Remembramento e Desdobro e Correção de erros e imprecisões identificadas quanto aos usos e parâmetros urbanísticos.