Minha história para a Brasília de 62 anos

Minha história para a Brasília de 62 anos
Compartilhe:

Dionyzio Klavdianos
Presidente do Sinduscon-DF

Querem saber de algo bem autêntico de Brasília nos anos 1970 e 80?! Aguardar ansiosamente o Correio Braziliense do dia seguinte à divulgação da lista dos que passavam no vestibular da UnB.

O diretor do filme Eduardo e Mônica rende homenagem ao momento na cena em que destaca a página do jornal com o nome completo do Eduardo e a conquista, o curso de engenharia civil.

Engenharia civil oferecia 30 vagas por semestre, a concorrência não era tanta quanto na de medicina da Mônica, mas exigia boa nota, só havia na UnB e longe naquela época era um lugar que não existia, a maioria dos jovens da Brasília tentavam a sorte por aqui, não recorriam a outras cidades.

Eu fiquei sabendo que tinha passado ouvindo a rádio Planalto. O locutor passava, ao vivo, toda a lista na ordem alfabética! Dois mil nomes, embatucou no Klavdianos, mas com Dionyzio Antonio Martins já dava para saber que entraria, amém…

Todo o ano o mesmo ritual, num dia a lista pregada nas paredes do minhocão, no seguinte a divulgação nas páginas do Correio e, no outro , no Correio de novo, as propagandas do colégio objetivo com a fotografia dos cabeções. A foto do Andrezinho lá , o mais jovem calouro de engenharia civil a passar na UnB…15 anos de idade.

Eu e ele tínhamos algo especial em comum, ambos havíamos nascido em Brasília. Ter como amigo na UnB alguém genuinamente brasiliense era raro, o grosso da turma era uma miscelânea de goianos, mineiros e paulistas do interior, mais uns tantos nordestinos e oriundos de famílias transferidas para Brasília, nacionais ou internacionais (embaixadas), civis ou militares (vários).

Dava bom caldo , poucos conseguiam vagas nos alojamentos do CO (centro olímpico), a maioria dividia apartamentos alugados nas 400 da asa norte, perto da UnB, carro próprio era luxo e a comida do bandejão gostosa (exagero talvez, mas nunca abri mão desta opinião!), boa, barata, nutritiva e balanceada, além de ficar aberto à noite e aos finais de semana, diga-se de passagem o bandejão e a biblioteca, também homenageada no filme.

Com tanta gente morando fora, aos finais de semana, ao menos os prolongados, quando a turma ia ver a família, a universidade se tornava um ermo. Todo o ano organizávamos o CAFATEC (campeonato das faculdades de tecnologia); agronomia e florestal, civil, elétrica e mecânica. Tínhamos um diretor de esportes organizado quando presidi o Centro Acadêmico, o Marcelo Oliveira, que morava em Goiânia, quando seu time não jogava na rodada do final de semana, não havia quem o segurasse aqui, me entregava as tabelas prontas com antecendência e partia para enfrentar as 7 curvas da BR 060, nunca duplicada até então, apesar do tenebroso número de acidentes fatais, para encontrar a Ana Cristina, como a Mônica primeira namorada e parceira até hoje.

Marcelo tinha pressa em se formar, fazia ao menos 30 créditos por semestre e concluiu o curso em 5 anos… eu gostava demais da UnB, me envolvia com movimento estudantil e demorei 6, o Andrezinho atrasou mais ainda, passou num concurso pra inspetor da receita federal e precisou se dividir. Com seu atraso, tenho pra mim que deva ser o primeiro engenheiro civil nascido e formado em Brasília. Entra presidente do CREA sai presidente do CREA conto pra eles essa história, prometem pesquisar nos arquivos do conselho, mas acabam deixando de lado…

A bonita festa em homenagem aos 25 anos da inauguração do Brasília shopping ocorreu no terraço do prédio e o acesso até lá se dava através de um elevador de cremalheira, igual à cena final do Eduardo e Mônica, o vernissage dela ocorre numa obra. Será que veio do filme a inspiração? Gicelene ficou apreensiva ao entrar nele, lembrou de quando andou num pela primeira vez, aliás no primeiro elevador de cremalheira instalado numa obra em Brasília, num prédio que construímos em Águas Claras.

Voltar