Dionyzio Klavdianos
Presidente do Sinduscon-DF
Na folha de terça-feira, 25 de junho, matéria do arquiteto Francesco Perrotta - Bosch questiona a percepção simplista que se tem da revitalização de um bairro decadente a partir da simples existência de um restaurante, mesmo que seja ele um dos 50 melhores do mundo. Uma multidão em volta da porta do marco, que acabou de entregar as chaves ao manobrista e não perambulou pelos arredores não vivenciou a experiência completa.
Uma vez em São Paulo com a família, sugeri conhecermos a pizzaria Castelões no bairro do Brás, destacada no guia como das mais antigas e tradicionais da cidade e casa de afamada pizza de calabresa. Optei pelo metrô, descemos numa bela estação centenária, outrora ferroviária, e fomos a pé para o local, na época não havia app de localização e me orientei pelo mapa do guia.
Não tinha ideia de que o local era ermo e deteriorado. Ao cruzar por nosso grupo, casal e cinco crianças, um transeunte nos alertou do perigo que corríamos ali, foi tenso, mas consegui encontrar a pizzaria no exato momento que o sol se pôs.
Até hoje a visita é relembrada pelos envolvidos, menos pela qualidade da pizza ou pela decoração que celebrava a época de ouro do Santos e da seleção brasileira, mas pelo sufoco pelo qual passamos. De toda a forma, prefiro nossa experiência completa de cidade a daqueles que deixam o carro com o manobrista.
Há um restaurante em Brasília chamado DuPará, que conhecemos através de indicação de uma amiga, localizado no final da W3-Norte. O local não atrai, mas a cozinha é de primeira, não sei se só por este fato ou pela quantidade de migrantes do Norte o negócio está crescendo, abriu outra operação na W3-Norte e outra na W3-Sul, avenida histórica, que passa por um processo de melhoria de ambientação simples mas animador, embora de parecença um tanto confusa pra quem passa pelo local.
A experiência do DuPará fez com que desse uma vista mais apurada em toda a extensão da W3 norte, que ao contrário da homônima na Asa Sul, nunca chegou a contar com dias de glória. Pois bem, há uma gama de outros restaurantes e bares nos moldes do DuPará, notadamente nas esquinas, os famosos puxadinhos, termo pejorativo e até injusto em muitos dos casos, de pé e prosperando, alguns com nomes bacanas como bengala e same same but different .
Embora de forma torta no que tange ao rigor urbanístico, o empreendedorismo destes comerciantes ajuda a manter a cidade viva e viva dá para sarar, morta é que não.
Foto: Folha de São Paulo
