Salvando estrelas do mar

Salvando estrelas do mar
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Dionyzio A. M. Klavdianos
Vice-presidente do Sinduscon-DF
Diretoria de Materiais, Tecnologia e Produtividade (Dimat)


Wenddie Dutra é psicóloga, e só emoção ao apresentar o trabalho de prevenção contra o suicídio que coordena junto aos internados que ocupam ao menos 100 leitos na emergência, e pelo menos mais 60 em cada uma das 11 enfermarias do Hospital de Base.


Guardadas as devidas proporções, me lembra o desafio da Gezeli no “Projeto Indicadores do Concreto”, tendo de pelejar com seus quase 100 canteiros de obras por ano. Ambas parecem ter o “corpo deformado” do poema de Vladimir Mayakovsky, citado pela psicóloga durante a apresentação, pois são só coração.


Outra coisa em comum entre as duas? A dificuldade em obter indicadores, embora acredite ser melhor a situação de Gezeli, que já conta com bom trabalho de coleta em progresso, enquanto no caso de Wenddie, a despeito do esforço de diversas secretarias do governo de Brasília, sequer possuem ainda um banco de dados integrados relativo ao mal, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é o terceiro que mais mata no mundo pessoas na idade de 29 a 49 anos.


Não que o banco de dados da Gezeli seja tão evoluído, pois recém completou quatro anos de existência, mas restringe-se a canteiros de Brasília e foca um processo construtivo apenas, a concretagem. Em comum, os dois trabalhos contam com o fato de, cada um a seu modo, serem iniciativas únicas no país.


Muita coisa na construção civil brasileira, ou na saúde brasileira, ou na situação brasileira como um todo não melhora justamente por causa da falta de organização de dados, que bem coletados poderiam apontar para mudanças significativas.


Há duas semanas atrás Gezeli e Bruna, uma de nossas estagiárias, nos apresentaram um gráfico com o comparativo entre o indicador de determinado canteiro de obras e o da média das coletas. A partir da quinta etapa cada canteiro participante receberá o seu gráfico e poderá, se assim o desejar, comparar seu desempenho com o dos demais, nosso sonho desde o inicio do projeto e que só agora se efetiva.


Ao presenciar aquele gráfico confesso que me emocionei, o que pode parecer meio piegas. Todavia se, em vez de nos emocionarmos com pequenas conquistas como os tais gráficos de comparação, optarmos por contextualizá-las, tenderemos a nos frustrar, pois as dificuldades que, por exemplo, o setor da construção civil enfrenta no caminho de melhoria da qualidade técnica são bem superiores. Ao nos frustrarmos, deixamos de ver sentido no esforço de trabalhos como o do Projeto Indicadores, ou o de Wenddie no Hospital de Base, que narra à platéia, com a voz quase embargada pelo choro, o caso de um paciente que deixou de se matar ao se lembrar do tratamento desenvolvido pela equipe do Hospital de Base quando esteve internado na emergência .


Fosse no ano de 2012 diriam a ela que enquanto salvou um, mais de 12 mil haviam se suicidado, mas e daí?


Para estes talvez sirva outra história contada pela psicóloga durante a apresentação: um garoto, que lançava de volta ao oceano estrelas do mar que as ondas depositavam na areia todo dia pela manhã, responde a um escritor que o indagou sobre a razão de despender tanto esforço para salvar poucas enquanto milhares morreriam de toda a forma, “Para aquela estrela do mar eu fiz a diferença”.


P.S: O nome da psicóloga que trabalha no Hospital de Base na prevenção contra o suicídio é o Wenddie. Afinal esta história de nome ajudar na determinação do destino talvez faça sentido.

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