Tons de cinza

Tons de cinza
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Dionyzio Klavdianos
Presidente do Sinduscon-DF

O aglomerado onde vive a família de Layla lembra uma daquelas currutelas que costumávamos ver às margens de rodovias nas incursões Brasil adentro. Poucas casas, espalhadas sem um plano diretor definido. Mas tudo cinza, pedregulho e areia, de colorido só as roupas penduradas no varal.

Bom enredo, uma família de beduínos, adolescente apaixonada pelo colega de outra casta que conheceu na escola, os pais em conflito entre o amor que sentem um pelo outro e a obediência às tradições que faculta ao homem outro casamento, prestes a acontecer.

O povoado parece com qualquer um paupérrimo daqui, não obstante a aridez do clima e a ausência de chuva, que lhe dá mais dignidade ao reduzir os efeitos degradantes da água sobre construções que nunca serão concluídas.

A escada de pneus dá acesso ao quintal sem cerca, telhas de zinco guardam as cabras, janela de ferro reenquadrada num cômodo e de PVC chumbada noutro, fachada metade rebocada e metade em bloco de concreto aparente cinza…

A irmã pede à mais nova que lave o piso e ela retruca dizendo que em dez minutos a casa vai se encher de poeira novamente, venta muito, tempestades de areia.

A parada de ônibus guarda integridade, apesar da agressão do tempo e a falta de conservação. Na universidade as camisetas coloridas e os ray-ban dos garotos ao melhor estilo ocidental em contraste com o bonito hijab da protagonista, o concreto, aparente, cinza.

Mas não tudo, as paredes do quarto são pintadas em cores vivas, até berrantes, pelo noivo para a noite de núpcias.

Layla critica o lilás escolhido para a sua. O noivo elenca então uma cartela inteira e entende que o azul seria boa alternativa, mas na sua cara está estampado que não gosta também. Não era o noivo que desejava, a cor seria cinza.

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